Não me cabe a mim comentar ou opinar estes jogos de politiquices "sarsizeiros", só que cabe-me a mim escrever, que era isso que queriam de mim.
E eu escrevo o que quero, principalmente quando estou revoltada ou triste.
Até aqui gabava-me de não ser uma pessoa egoísta. Mas também sempre me orgulhei de não ser uma pessoa linear ou reticente a mudanças, sejam elas de que maneira forem, portanto, não tenho receio de acrescentar defeitos ao meu eu.
Afinal sou egoísta. É isto que tenho a dizer.
Este ano tirou-me, ou melhor, foi-me negado muita coisa.
Tive que adiar a minha viagem de sonho, tive amigas a virar mães e eu ainda não pude pegar nem partilhar a felicidade delas, vou ter amigos que vão ser pais e eu vou ter de manter a merda da distância social.
Fui daquelas que cumpriu literalmente e à risca, no meu pequeno T1, o isolamento, ou a quarentena mais de 2 meses, sem ter estado, por enquanto, infectada, a não ser com raiva.
Fui daquelas que acreditou que podíamos virar isto ao contrário e ser melhores.
Este vírus ainda tem a coragem, a ousadia, de me tirar o próximo Carnaval e queira alguma identidade divina que não nos tire o trabalho, nem mais viagens, nem mais carnavais, nem mais abraços ou sorrisos sem máscara.
Que não nos tire a possiblidade de ser recém tios, ou recém irmãos ou recém pais ou recém seja o que for.
Afinal sou egoísta.
É por pensar em mim, nas viagens que tenho esperança de fazer, no trabalho que devia manter, nos abraços que tenho esperança dar, nos casamentos que quero ir, até nos bebés que quero apertar, que decidi não festejar o Natal como costumo festejar.
É só por pensar em mim, não quero nem saber dos profissionais de saúde que estão cansados, das pessoas que perderam e ainda vão perder o emprego, nos recém-pais que não assistiram a uma ecografia ou participaram no nascimento dos filhos, dos familiares que não conseguiram despedir-se de quem amam, das pessoas internadas, dos hospitais lotados...
É por mim.
Para não me tirarem mais de 2021, optei por ficar apenas com o meu marido a festejar o Natal.
Mas só por mim.
Este ano não há nenhum ser mascarado de velhinho a bater à porta com prendas, não vamos ser mais de 10 à mesa, não vou deixar um sapato vazio à frente da lareira e voltar com várias prendas à frente dele.
Ao longo de 26 anos foi assim o meu Natal, rodeada de amor, felicidade e também de consumismo, seja ele mau ou não.
Sempre houve quem faltasse à mesa, este ano vão faltar mais.
Porque eu quero que em 2021 não faltem.
Não faltem nem pessoas, nem animais, nem sonhos, nem abraços.
O meu egoísmo não me permite pensar que os meus pais vão estar tristes, que os meus irmãos sentirão a minha falta, que os meus avós vão chorar e que os meus tios nunca passaram um Natal sem mim.
Temo que se não adiar este Natal, possa voltar a adiar tantas outras coisas. E sou egoísta por não querer adiar mais nada.
Tomara eu, todos sermos egoístas.
Quero que 2021 seja melhor, quero viajar, beijar, abraçar, acrescentar.
Quero que 2021 não me roube, não me tire.
É por isso que, políticas à parte, aconteça o que acontecer, vamos ser 2, ou 3 com o gato que ele também conta.
Porque para o ano, podemos ser 10 ou 20.
E afinal de contas, o Natal é quando um Homem quiser.
Sou egoísta e talvez com algum défice cognitivo, por não ter capacidade para compreender esta andança de abre e fecha concelhos, para este podes sair do país , afinal não podes, podem ser 5 à mesa, afinal podem 20, esta visão extraordinária de que o vírus ou seja lá o que for é mortífero nos feriados e respectivas pontes de dia 1 e 8, mas não é contagioso no de 25, até escolhe horários para ser perigoso, o esperto.
A única coisa coisa que me apraz dizer e citar, finalizando o desabafo é só: "merda, mil vezes merda".
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