A carta sobre ela.

Carta aberta à minha mãe.
Acho que quando a minha amiga me criou o blog era isto que queria, que eu escrevesse só porque sim.

Nunca escrevi sobre ela, pelo menos não que me lembre.
Acho que já escrevi sobre tantas pessoas que já perdi a conta e hoje reparei que não tenho nenhum texto, nenhuma palavra sobre a grande mulher que ela é.

A pessoa de quem falo é a minha mãe.

Agora que estou a começar a escrever sobre ela percebo porque nunca o fiz. É mesmo difícil. Como é que se pode escrever sobre o mundo? Sobre o nosso mundo? Não se pode.
De alguma forma queria que ela soubesse o que é para mim, mas nunca em tempo algum ela vai saber. Não vai mesmo.
Para começar, eu sou demasiado orgulhosa para lhe dizer o que ela representa e depois porque ela é demasiado orgulhosa para ouvir o que representa também.
Ou seja, eu não saberia falar e ela não saberia ouvir.

A minha mãe é a pessoa mais bonita do mundo, juro que é.
Nunca vi ninguém tão bonito na minha vida (que eu sei que não é muito longa, mas já vi muitas pessoas). Ela é a mais bonita mesmo quando fica de pijama em casa, mesmo quando não se penteia, mesmo quando o cabelo já viu melhores dias, mesmo quando está doente, mesmo quando tem dores, mesmo quando acha que não é.

A minha mãe é a pessoa mais forte do mundo, juro que é. Mesmo quando não consegue despejar o balde da água, mesmo quando não consegue sacudir aquele tapete gigante lá de casa, mesmo quando não pode fazer esforços.

A minha mãe é a pessoa mais corajosa do mundo, juro que é. Mesmo quando não consegue matar algum bicho, mesmo quando tem medo do mar, mesmo quando teme o futuro, mesmo quando diz que tem medo.

Já disse que a minha mãe é a pessoa mais bonita do mundo?

A minha mãe consegue ser a melhor amiga do mundo sem deixar de ser mãe, e não é qualquer mulher que consegue ser isso. A minha mãe consegue ser pai sem deixar de ser mãe. E juro que nem todas conseguem.
A minha mãe consegue ouvir e falar. Consegue dar conselhos e opiniões. Consegue criticar e defender. E nunca te diz para não ires. Nunca!!!
A minha mãe deixa-nos ir e está sempre lá quando voltamos, E olhem que não é qualquer mãe que consegue fazer isso.
A minha mãe fica feliz com as nossas decisões e luta por elas até ao fim. E olhem que não são todas assim. Eu sei que não.

A minha mãe consegue ser tanto. Tanto mesmo.

A minha mãe nunca me deixou mesmo quando a quis deixar. Nunca me largou mesmo quando não queria que ela me agarrasse. E ainda bem.
E agora quem não a quer deixar nem largar sou eu! Nunca nunca.

A minha mãe é mesmo a melhor do mundo, perdoem-me as outras mães.
A minha mãe, vocês não sabem, ela não sabe, mas é mesmo a pessoa que eu mais amo no mundo. E a sério que é a mais bonita do mundo.

A minha mãe tem defeitos, claro que tem, é humana para começar, eu queria que ela fosse uma deusa mas não é. Mas até os defeitos dela se apagam com a sua bondade. A sério sabem aquelas pessoas mesmo mesmo boas? A minha mãe está nessa fatia pequena que este mundo tem. Tomaria eu ser tão boa como ela.

A minha mãe é chata, é rabugenta, tem mau acordar, é teimosa, é esquecida, é muitas coisas que me irritam, mas depois... Bem, depois a minha mãe ganha forças para ser a melhor. E é.

Um dia eu vou conseguir pôr o orgulho de lado e dizer-lhe o quanto a amo.
Talvez hoje ainda não seja o dia, mas ela assim já sabe mais ou menos.

É impressionante como é tão difícil escrever sobre ela, como é impossível escrever para ela.

A minha mãe não sabe mas eu apaixonei-me por ela desde que a vi, tenho a certeza.


Um dia, vou ganhar coragem e escrever-lhe uma carta, hoje ainda não foi o dia.

A minha mãe é a pessoa mais bonita do mundo. Já vos tinha dito?