Não queria começar o ano com más recordações nem publicações tristes,mas decidi homenagear por aqui alguém que partiu há algum tempo, porque essa pessoa merece ser lembrada.
Quando recebi a notícia, não soube logo o que fazer… Se devia chorar, falar, gritar… Sinceramente, durante 2 minutos não fiz nada… Nos 3 minutos seguintes passaram-me mil e quinhentas imagens que gostava que tivessem acontecido… Mas não aconteceram…
Como ir passear à frente do mar, apresentar-me ao resto da família, mostrar-me os cantos a uma casa que não conheci, dar-me a conhecer o seu país, os sítios por onde passeia, o que gosta de tomar ao pequeno-almoço… Passou-me à cabeça que não sei qual é a sua comida preferida, nem a cor que mais gosta, também não sei onde é o seu cabeleireiro ou café de eleição… Fogo, nem me consigo lembrar se bebe café… Também não tive tempo que me decorasse os hábitos, ou os gostos… Eu gosto de café avó, curto e sem açúcar… Não gosto de amarelo, prefiro cinzento ou azul. Gosto de ver o mar. Na verdade adoro o mar. A praia mais bonita do mundo é a Nazaré, a meu ver pelo menos e lá o barulho das ondas é diferente dos outros sítios… Lá eu sinto-me melhor, na verdade. Gosto de respirar… Não respirar apenas, mas inspirar e expirar, o acto em si agrada-me , de preferência com algum vento. Também gosto de vento, pensando bem. A avó gosta de vento?
Não tive tempo de decorar o som da sua voz, da sua gargalhada, nem mesmo de quando se zanga… Nem sei se alguma vez se zangou sequer… Sempre que falava comigo eu acho que sorria, mas nem tivemos tempo de falar muitas vezes.
Adoro palavras… E de abraços, adoro abraços… Queria ter decorado o seu abraço… Peço desculpa, não decorei tanta coisa. Ficou tanto por dizer, avó. Acho que nem a chamei de avó tantas vezes quanto queria… Acho que se não fosse a distância a roubar-nos os anos juntas, nós tínhamos sido melhores… Acho que se não fosse a distância a impedir-me de ser neta eu tinha sido melhor… E se calhar agora não chorava mais. Sabe avó? O que dói? É tê-la perdido antes de todos a perdermos… A sensação de promessas não compridas, frases não ditas, conversas que não existiram… Eu disse tantas vezes que a ia visitar… Eu queria avó, juro que queria… Mas deixámos sempre para depois, não é? Os abraços, os beijos, os sorrisos, as palavras, o principal, nós temos tendência para deixar passar… E agora avó? Agora não vou saber nunca qual era o seu dia da semana preferido, nem o mês que mais gostava… Eu gosto de Fevereiro, e de quartas-feiras… Não gosto do Domingo… E acho que agora também não gosto do dia 1. E a avó? Gosta de que dia?
A avó gosta de flores? Eu adoro rosas e amores-perfeitos. Qual gosta mais?
Quando for grande não sei o que quero ser ainda… A avó foi o que quis ser? Eu não sei…
Quando sonho em ir ao Brasil, sonho que vão estar todos lá para me abraçar… A avó pode estar também? Pode dar-me um abraço apertado? Como só as avós sabem dar?
Não me lembro de muita coisa, mas garanto que nunca me esqueci de si…
Avó, desculpe… Não ter sido presente… Ter ficado tanto por dizer, ter ficado tanto para depois… Não ter cumprido a minha promessa de a ir ver e ter adiado tudo…
Avó, desculpe tê-la perdido antes de a perder.
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